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Foto do escritorFrederico Braga

Mapas do Significado - A Arquitetura da Crença de Jordan Peterson

Atualizado: 8 de mai. de 2022





O mundo pode ser interpretado, de forma válida, como uma instância de

ação, bem como um lugar de coisas. Descrevemos o mundo como um lugar

de coisas, usando os métodos formais da ciência. Contudo, as técnicas da narrativa - mito, literatura e drama - retratam o mundo como uma instância de ação. As duas formas de representação têm sido desnecessariamente definidas em discordância, pois ainda não formamos um quadro claro dos seus respectivos domínios. O domínio da primeira é o mundo objetivo - aquilo que é, de acordo com a perspectiva da percepção intersubjetiva. O domínio da última é o mundo do valor - aquilo que é e aquilo que deveria ser, de acordo com a perspectiva da emoção e da ação.


O mundo como uma instância de ação é composto em essência de três ele-

mentos constitutivos, que tendem a se manifestar em padrões típicos de representação metafórica. O primeiro é o território inexplorado - a Grande Mãe, a natureza, fonte criativa e destrutiva, e local de repouso final de todas as coisas determinadas. O segundo é o território explorado - o Grande Pai protetor e tirânico, a cultura, sabedoria ancestral cumulativa. O terceiro é o processo que faz a mediação entre o território inexplorado e o explorado - o Filho Divino, o indivíduo arquetípico, Palavra exploratória criativa e adversário vingativo. Estamos tão adaptados a esse mundo de personagens divinos quanto ao mundo objetivo. Tal adaptação significa que o ambiente é, na "realidade", tanto uma instância de ação quanto um lugar de coisas.


A exposição desprotegida ao território inexplorado produz medo. O indivíduo é protegido de tal medo por consequência da imitação ritual do Grande Pai - por consequência da adoção da identidade de grupo, que restringe o significado das coisas, conferindo previsibilidade às interações sociais. Contudo, quando a identificação com o grupo se torna absoluta - quando tudo deve ser controlado, quando o desconhecido não tem mais permissão para existir -, o processo exploratório criativo que atualiza o grupo não pode mais se manifestar. Essa restrição da capacidade adaptativa aumenta, de modo dramático, a probabilidade de agressão social.


A rejeição do desconhecido é equivalente à "identificação com o diabo"

o equivalente mitológico e adversário eterno do herói exploratório criador do

mundo. Tais rejeição e identificação são consequência do orgulho luciferiano,

que afirma: tudo o que sei é tudo o que é necessário saber. Esse orgulho é uma presunção totalitária de onisciência - é adotar o lugar de Deus por meio da "razão" -, algo que inevitavelmente gera uma condição de ser pessoal e social indistinguível do inferno. Esse inferno desenvolve-se devido à exploração criativa - impossível sem (humilde) reconhecimento do desconhecido -, constituindo o processo que constrói e mantém a estrutura adaptativa protetora que insufla vida em grande parte do seu significado aceitável. A "identificação com o diabo" amplifica os perigos inerentes à identificação

de grupo, que tende, por si só, à estultificação patológica.


A lealdade ao interesse pessoal - significado subjetivo - pode servir de antídoto à tentação avassaladora constantemente imposta pela possibilidade de negação da anomalia. O interesse pessoal - significado subjetivo - revela-se na junção do território explorado com o inexplorado, sendo um indício da participação no processo que assegura a continuidade da adaptação salutar do indivíduo e da sociedade.


A lealdade ao interesse pessoal é equivalente à identificação com o herói arquetípico - o "salvador" -, que mantém sua associação com a Palavra criativa em face da morte, a despeito da pressão do grupo para se conformar. A identificação com o herói serve para diminuir a insuportável valência motivacional do desconhecido; ademais, fornece ao indivíduo uma posição que, de forma simultânea, transcende e mantém o grupo.

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