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O que todas as doenças tem em comum? Elas batem de frente com um dos mais avançados sistemas biológicos existentes, o seu sistema imunológico. Hoje vamos saber mais sobre a extraordinária história de como o organismo se defende das doenças, com este ótimo livro IMUNE por Matt Richtel.
Matt Richtel é jornalista do The New York Times e foi agraciado com o prêmio Pulitzer de Jornalismo em 2010, por uma série de artigos sobre direção distraída. Para quem não sabe, o prêmio Pulitzer é também entregue a reportagens de jornal e muitas outras coisas, não apenas a livros. Tenho um vídeo que falo sobre os principais ganhadores do prêmio, você pode encontrar o link aqui.
Por que essa informação é importante? Porque o livro IMUNE parece mesmo uma grande reportagem de jornal. O autor faz algo muito interessante, ele segue a vida de quatro sujeitos, Jason, que tem um câncer muito agressivo, Bob, que possui um sistema imunológico incrível e não se adoece com AIDS, Linda e Merredith que possuem uma doença muito complicada, autoimunidade, ou seja, o sistema imunológico delas está atacando seu corpo.
Na segunda parte do livro, ele mistura uma série de entrevistas com explicações técnicas sobre o sistema imunológico. Veja, Matt é um tradutor. Ele traduz a ciência da imunologia pra gente. Porque é algo realmente complicado, espetacular e novo. Apesar de cientistas saberem sobre o sistema imunológico há muitos anos, foi recentemente, da década de 70 para cá, que as coisas deslancharam. Muito porque o sistema imunológico trabalha em escala molecular. E não havia recursos técnicos suficientemente avançados para poder estudá-lo.
Beleza, mas qual o objetivo do livro. Acho que é mostrar a façanha, a complexidade desse sistema que vive quase que independente dentro de nós. O autor chama o corpo humano de Festival da Vida. Então nosso sistema imunológico não é uma barreira às doenças. Até porque, neste festival, todos podem entrar. Entram geralmente pelo nariz e pela boca, mas podem entrar por outros orifícios também, como um corte na pele. E o que entra? Entra tudo. Vírus e bactérias. E nosso sistema tem que identificar os participantes da festa e manter a ordem.
Cara, agora imagina. Você come uma banana. Por que seu corpo não ataca essa banana? E se a bana estiver podre, ou contaminada, como ele identifica o que fica do que tem que sair? Parece que há uma inteligência nisso, não? E há mesmo. Uma inteligência biológica.
Leia um trecho para você entender um pouco da dimensão do sistema imunológico e também para sentir um gostinho de como o autor escreve:
“Uma vez dentro, o patógeno se mistura às células, reproduz-se, forma uma colônia. Toma conta de um pedaço da festa e se espalha. Nessa etapa, uma ou mais dentre as numerosas células da primeira linha de defesa do sistema imunológico suspeitam do perigo. Neutrófilos, células exterminadoras naturais e células dendríticos. Compõem uma espécie de brigada de incêndio. O que acontece em seguida é inchaço, dor, febre. Inflamação é isso. No festival da vida, teve início uma briga de bar - ainda não é uma guerra completa, e o sistema imunológico pretende mantê-la assim.”
Cara, aí depois ele vai descrevendo a função de cada célula, por exemplo esses neutrófilos são bizarros. Eles possuem tipo um checklist para saber se o que encontra é uma ameaça ou não. Tipo, possui cauda ondulada? Sim. Deve ser bactéria. Aí ele solta uma chave, que é uma proteína, e mata essa ameaça, antes mesmo de saber se é uma ameaça ou não. Essa proteína que ele solta é um alerta amarelo a outras células de defesa, como as células T. E essas dendríticas vão lá, tiram um pedaço dessa possível ameaça e levam para análise nos linfonodos. Tipo um quartel general, cheio de comandantes, as células T, e soldados, as células B.
Quando ocorre um corte na sua pele… que coisa incrível! O sistema imunológico colabora com a divisão celular, promovendo assim a cicatrização e a reconstrução. Então é o momento em que ele arrefece um pouco suas defesas para que a duplicação celular ocorra mais rápido. Então o nosso sistema é feito com freios e contrapesos também. Por isso que uma doença autoimune, ou seja, um sistema imunológico sem freios, é muito perigosa. Porque o sistema imune é muito forte, ele consegue destruir um órgão seu em poucas semanas. Ele está sempre na corda bamba, fazendo escolhas, analisando, guerreando e limpando. Coisa incrível mesmo. Só perde para o cérebro em complexibilidade.
Como o sistema imunológico é uma máquina automática de proteção, quanto menos nos expomos a possíveis patógenos, menos o sistema fica robusto e treinado. Então a mania de limpeza que temos hoje em dia, por um lado é boa, mas por outro deixa nosso sistema milenar de proteção sem ter muito o que fazer e pouco treinado. Por isso que uma das defesas de imunologistas hoje em dia é: exponha-se. Troque informação biológica com o meio ambiente, com outras pessoas, pois assim você está treinando e aperfeiçoando o seu sistema de defesa.
Ao final, o livro fica muito emocional, pois uma das pessoas que ele acompanha nas reportagens é um amigo de infância, Jason, que tem um câncer muito agressivo. E ele conclui, muito interessante, que a ciência de imunologia não quer fazer com que as pessoas vivam para sempre, ao curar todas as doenças, mas sim que as pessoas vivam com qualidade até o fim, pois a própria ciência mostra que, passado o meio da vida, ali pelos 40 anos, o corpo começa a desligar alguns sistemas, começa ele mesmo a não gastar tanta energia para reparar estruturas nem analisar e guerrear todos os patógenos. Após o período reprodutivo, o corpo começa a abrir espaço para o novo, a nova geração de pessoas, com um sistema, teoricamente, mais aprimorado que o nosso.
É isso pessoal, fica aqui a indicação desse livrinho muito divertido, curioso e emocionante. Como se estivesse assistindo a um programa de reportagem especial na TV. Se você ficou curioso, o link para a compra do livro está aqui. Foi um prazer ter sua audiência,um grande abraço, boa sorte e até a próxima. Valeu.
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